Na Europa, o Hospital Amadora/Sintra foi um dos pioneiros a avançar com os cursos para especialização em medicina desportiva, mas hoje Portugal está nas “bocas do Mundo” pela piores razões
Portugal foi um dos primeiros países a exigir exames médicos desportivos, corria o ano de 1982 e na Europa só a Bélgica, Holanda, Polónia e Inglaterra tinham esta matéria legislada.
Nessa altura, os médicos (normalmente ortopedistas, clínicos gerais e fisíastras) faziam um exame sob as regras da Ordem dos Médicos para se especializarem em medicina desportiva, mas a partir de 2013, passou a haver um curso que obrigava os médicos a fazer uma formação específica em formato de internato.
Um dos primeiros hospitais a abrir vagas para este curso foi o Dr. Fernando Fonseca (mais conhecido por Amadora/Sintra), mas outros se seguiram, um pouco por todo o país.
Apesar de tudo isto, hoje Portugal está na ordem do dia pelas piores razões, pois os médicos fazem exames desportivos à pressão e a troco de 2 ou 3 euros por consulta.
Há cerca de 624000 atletas federados e todos precisam de um exame desportivo, o que faz disparar de forma desenfreada as ofertas de empresas de saúde, e isso pode pôr em causa a saúde e a segurança dos jovens.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) não consegue dar resposta aos pedidos dos atletas e as empresas privadas começam a vender exames e outros serviços em pacote, oferecendo aos médicos 20 a 30 euros por hora, mas este valor só é pago se os clínicos consultarem mais de 10 pessoas.
Uma destas empresas privadas admite que paga aos médicos 23 euros por hora, mas nesse horário têm de ser atendidas 10 pessoas, pois se assim não for o valor pago aos clínicos passa a ser 2 a 3 euros. Assim, cada consulta/exame só dura 6 minutos quando o ideal deveria ser 20 a 30 minutos.
No entanto, o proprietário da empresa privada diz que “as contas não são assim tão claras, pois não exigimos que os médicos vejam 15 ou 20 pessoas; tudo vai depender da dinâmica do médico, já que há uns que veem 7 ou 8 atletas numa hora, e outros conseguem atender 12 ou 13 no mesmo período”.
“Seguimos os critérios do IPDJ, enquanto há clínicas que cobram aos clubes 5 euros por exame e com este valor pagam aos médicos, aos técnicos de saúde e ainda tiram uma percentagem para as suas contas”, diz a mesma fonte que acrescenta que “assim estão a destruir a imagem da medicina desportiva”.
Alberto Prata, médico da Seleção Nacional de Futebol de Praia, mostra-se muito preocupado com a situação, pois “os exames não podem ser feitos à pressão, tem que se ver a história clínica, auscultar, medir a pressão arterial, a frequência cardíaca e ver outros exames já feitos pelo atleta”.
“Sei que 30 euros por hora para um médico é muito bom, mas depois entram miúdos no consultório de 2 em 2 minutos e não se pensa na responsabilidade; se houver um problema de saúde com o atleta, o responsável é o médico, mas como não há controlo todos fazem o que querem”, refere a mesma fonte.
De facto, a falta de controlo é um dos maiores problemas, mas também é verdade que os médicos não denunciam estas práticas e assim fica difícil atuar, como confessa fonte das estruturas sindicais e profissionais.
Os exames de medicina desportiva são tutelados pelo Ministério da Educação e pelo Ministério da Saúde, com a supervisão do Instituto Português da Juventude e Desporto (IPDJ), Direção-Geral da Saúde e Entidade Reguladora da Saúde.