Em entrevista à TVI, o funcionário da Carris queimado na noite dos desacatos após a morte de Odair Moniz rebobinou o arrepiante episódio ocorrido há cerca de um mês em Santo António dos Cavaleiros. Garante que pediu aos autores para o deixarem sair do autocarro antes de lhe pegarem fogo e apontarem uma arma à cabeça, mas não deixaram. O homem ficou com várias partes do corpo queimadas e foi internado na unidade de cuidados intensivos.
«Começam a enviar cocktails molotov para cima de mim. Sinto logo que fica um cheiro de combustível. Foi só um indivíduo dar faísca e eu começo a pegar fogo. A chama foi toda ao meu encontro. Porque é que não me deixaram sair e depois pegavam fogo ao autocarro? Porquê? Eu pedi para me deixarem sair mas não me deixaram», conta o motorista, prosseguindo:
«Já na rua gritei por uma ambulância, enquanto apagava o fogo da cara e da cabeça com a mão direita. Ficou tudo em carne viva. Tinha os olhos fora da cara.»
Passou um mês do ataque. O objetivo é recuperar para poder regressar ao trabalho. «Este trauma vai ficar para a vida. Não faço mal a ninguém. Tenho o meu pai com Alzheimer, ajudo sempre o próximo e aconteceu-me a mim, não sei porquê. Estava no dia errado à hora errada. A recuperação é lenta e não está a ser fácil. Tenho muitas dores, tanto com frio como com sol. Marcaram-me sem motivo aparente. Peço que se faça justiça. Estas pessoas têm de ser presas e pagar por aquilo que fizeram. Isto vai ser um marco para a minha vida toda», afirma, rematando:
«Isto não se faz a ninguém. Ainda por cima a uma pessoa que está a trabalhar, a fazer o seu trabalho. Isto não tem desculpa. Foi o pior momento da minha vida, garantidamente. Vi a minha vida a fugir. Tive o instinto de sobrevivência. Hoje pergunto-me como consegui salvar-me…?»